Sobre células-tronco
1- O que são célules-tronco?
Após a fusão das células reprodutivas, começa a se formar um aglomerado de células. Este primeiro grupo de células são chamadas de totipontente por terem a capacidade de originar qualquer parte do organismo de um ser humano, além de terem também a capacidade de formar o acessório tal como placenta e tecidos de sustentação necessário para o desenvolvimento do embrião no útero e portanto podem se transformar em outro indivíduo gêmeo.
Após uns 4 dias, estas células começam a formar uma estrutura esférica, chamada de Blástula, apresentando duas partes, uma interna e outra externa. A parte externa formará a placenta e a parte interna formará o embrião. É na parte interna que estão as células capazes de gerar todas as células do organismo de um indivíduo. Estas células são chamadas de células pluripotentes e são estas as células-tronco ou “stem cells” ou células “mãe” que tanto se fala ultimamente, por terem a capacidade de se diferenciar em células de qualquer tecido, incluindo as do cérebro, coração, fígado, rins, ossos, músculos e pele, por serem esperança de cura para milhões de pessoas portadoras de doenças incuráveis.
Após a segunda semana o processo de diferenciação celular se define, ou seja, as células vão adquirindo posições e funções biológicas específicas, são denominadas multipotentes e cada uma pode dar origem a tipos específicos de células, como por exemplo a todos os tipos de células sangüíneas. A única fonte de células-tronco que pode se transformar em qualquer tecido são as de embriões. As células- tronco encontradas em outras fontes podem já estar com seu processo de diferenciação pré-determinado, limitando suas possibilidades terapeuticas.
2- Quais as fontes de células-tronco?
As células-tronco podem ser encontradas em:
a) Vários tecidos humanos, mas em quantidade muito pequena;
b) No sangue do cordão umbilical e na placenta e;
c) Em embriões nas fases iniciais da divisão celular.
3- Quais os possíveis usos médicos das células-tronco?
A capacidade de transformação das células-tronco em vários tecidos podem representar tratamento para muitas doenças que afetam milhões de pessoas no mundo. Por exemplo, em portador da doença de Parkinson elas poderiam regenerar as funções dos neurônios dopaminergicos e levar o paciente à cura. Outras terapias podem incluir diabete, mal de Alzheimer, derrames, enfartes, doenças sangüíneas, musculares, espinhais, câncer, doenças genéticas e outras. Estas células também poderiam ser usadas para testar os efeitos terapêuticos e colaterais de drogas em tecidos humanos, trazendo mais segurança para a população, diminuindo a fase de experimentação e o sofrimento e sacrifício dos animais usados como cobaia.
4- Porque o sangue do cordão umbilical e placentário (scup) pode trazer a cura para milhôes de pessoas?
Os cientistas descobriram qualidades “pluripotenciais” das células do sangue da placenta e do cordão umbilical. Este sangue adquiriu grande importância quando identificaram um grande número de células “tronco” hematopoiéticas, que são células fundamentais para o tratamento de pessoas portadoras de leucemia e outras doenças hematológicas. O cordão e a placenta, que hoje em dia é tratado como um “lixo hospitalar”, “é uma fonte alternativa viável” para o tratamento de doenças sangüíneas que exigem o transplante da medula e pode ser doado voluntariamente, para pessoas que necessitem do transplante.
A criação de diversos bancos de SCUP no Brasil vai amplia a diversidade genética das amostras, aumentar o número de doadores cadastrados e conseqüentemente, as chances de compatibilidade sangüínea entre os receptores. Outra vantagem é a redução da possibilidade de rejeição devido a imaturidade destas células.
5- O que é clonagem terapeutica?
A discussão ética sobre a clonagem de células humanas corre o risco de tomar o caminho errado, é preciso entender bem a diferença entre a clonagem reprodutiva e a clonagem terapêutica para poder opinar e não cometer o erro de tirar a esperança de cura de milhares de pessoas.
Clonagem Reprodutiva:
Cientistas provaram que é possível criar um clone de um animal. No caso da clonagem humana, a proposta seria substituir o DNA (molécula onde está codificada as informações para construir um indivíduo) de um óvulo humano de uma doadora, pelo DNA do núcleo de uma célula somática que teoricamente poderia ser de qualquer tecido de uma criança ou adulto. Esta união reagiria como um óvulo fertilizado e se dividiria como se estivesse sido fertilizado por um espermatozóide, dando origem a um aglomerado de células tronco embrionárias, o embrião. Se este embrião fosse implantado em um útero (que funcionaria como uma barriga de aluguel) poderia dar origem um individuo biologicamente idêntico ao doador do DNA.
As pesquisas com clonagem de animais não tem mostrado grande êxito. A ocorrência de fetos defeituosos ou com mutações patológicas são freqüentes. Pesquisas realizadas no Japão relataram que camundongos clonados também têm vida mais curta e apresentam problemas como lesões hepáticas, pneumonia grave, tumores e baixa imunidade (O Estado de S. Paulo, 12 de fevereiro de 2002). Segundo os defensores da clonagem humana, através da ultra-sonografia e da análise dos cromossomos seria possível identificar a maioria das malformações fetais, logo no início da gestação e evitar, assim, o seu nascimento. Entretanto, sabemos que existem mais de 7 mil doenças genéticas e que a grande maioria não pode ser detectada com os recursos atuais de diagnóstico pré-natal.
Clonagem Terapeutica:
Na clonagem terapêutica, pretende-se cultivar as células tronco em laboratório e induzi-las a se diferenciarem no tecido desejado.
Podem ser clonadas células do próprio doador, que serviriam para reparar tecidos lesados do seu próprio organismo, evitando assim o risco de rejeição, pois têm exatamente os mesmos genes deste. A clonagem terapeutica poderia ser usada para trazer as células ao estágio embrionário e reparar células doentes.
A Clonagem de células do próprio doador poderia, por exemplos, ajudar a reparar a medula dos paraplégicos vítimas de Traumatismo Raquimedular ou o cérebro das vítimas de Acidente Vascular Cerebral. No caso de doenças genéticas, como as distrofias musculares ou atrofias espinhais, não adianta usar as células do afetado porque o defeito genético está em todas as células. Neste caso, as células- tronco teriam que ser de um doador.
6- Como os embriões congelados podem salvar vidas?
Os embriões obtidos de tentativas de fertilização in-vitro, que existem literalmente às centenas de milhares, congelados em nitrogênio líquido, em clinicas e hospitais que realizam esse procedimento, são PROBLEMAS para alguns e ESPERANÇA de cura para milhares.
O Problema: A fertilização assistida ou fertilização in vitro é uma técnica adotada por casais inférteis. Está técnica quando iniciada há 20 anos, também gerou protestos mundiais e hoje temos milhares de crianças que nasceram graças a essa tecnologia. Nesta técnica o óvulo da mulher e o espermatozóide do homem são fertilizados fora do corpo. Os embriões assim formados se desenvolvem por alguns estágios ainda fora do corpo, e, se viáveis, são implantados no útero (da mesma mulher, ou de outra, a chamada “barriga de aluguel”) para crescer.
No laboratório só é possível a multiplicação das células tronco para “fabricar” tecidos. É impossível criar um ser humano sem implantação no útero materno!
Os embriões gerados em excesso são armazenados para fazer outras tentativas, caso as primeiras implantações não funcionem. A probabilidade de que um embrião implantado no útero gere uma vida é de cerca de 10%. Após o congelamento essa probabilidade diminui. Além disso, os embriões melhores são sempre selecionados para implantação. Portanto, aqueles que são congelados já tem uma chance muito menor de gerar uma vida, que pode ser quase zero. Mas isso não significa que eles não possam formar um tecido e com isso salvar uma vida!
Estima-se que existam cerca de 100.000 embriões excedentes armazenados em vários países da União Europeia. O grande problema é que alguns países, por questões éticas e religiosas, proíbem a destruição desses embriões, ou seu aproveitamento para pesquisas científicas.
A Esperança: Centenas de milhões de pacientes em todo o mundo poderão ser curados se as pesquisas com células-tronco puderem avançar. No Brasil os resultados do censo 2000 mostraram um número maior de portadores de deficiência do que o esperado: 24,5 milhões de pessoas, 14,5% da população brasileira. Pessoas que até então não tinham esperança de cura.
Vários paises já estão desenvolvendo pesquisas com embriões de até 14 dias após a fertilização, doados pelas clínicas de fertilização, com consentimento prévio do casal. Nesta fase, o embrião é um conjunto de células com cerca de um quarto do tamanho de uma cabeça de alfinete (0,2 mm). Essas pesquisas são aprovadas por comitês de ética muito rigorosos. A Associação Americana para o Progresso da Ciência (www.aaas.org) emitiu um relatório sobre a pesquisa com células-tronco, em que recomenda que somente embriões doados pelos seus legítimos pais sejam usados em pesquisas.
Devemos lembrar que os embriões descartados não se tornarão vida humana. O que é mais ético: uma mulher e seu companheiro decidir doar seus embriões, que nunca se tornarão seres humanos, para centro de pesquisas ajudando a ciência a salvar milhares de vidas ou deixá-los serem jogados no lixo?
Para o comitê da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, estudos com células-tronco extraídas de embriões extras produzidos no processo de reprodução assistida são éticos quando podem gerar conhecimentos que tragam benefícios à saúde humana.
Com isso, os casais que possuem embriões congelados e não necessitam mais deles – poderiam emitir um consentimento doando-os para pesquisa. Poderiam até mesmo escolher o centro de pesquisa, após obterem informações sobre o projeto em que o embrião seria utilizado, sobre os benefícios que o projeto trará para a humanidade.
7- Que é a medicina regenerativa?
Uma nova era na medicina está sendo iniciada. Os conhecimentos sobre a capacidade regenerativa tecidual das células tronco abrem caminhos para a sua utilização no reparo de tecidos e órgãos lesados.
Este novo campo de conhecimento, chamado de medicina regenerativa, é a aplicação das células tronco com o objetivo de regular o processo regenerativo do corpo humano, direcionando e ampliação o processo de reparo e a substituição de tecidos lesados.
Cabe aos pesquisadores obedecerem às leis e respeitarem a ética, mas o mundo está diante de técnicas e maneiras de agir impensáveis até aqui, com um potencial de avanços fantásticos. A medicina regenerativa a partir de células-tronco embrionárias é um exemplo disso.
Cabe aos nossos governantes e legisladores avançarem em seus conceitos a fim de adaptarem a legislação aos novos tempos: proibir o que é anti-ético (como a clonagem para fins reprodutivos) mas permitir o que é ético, o que é lógico, o que vai salvar vidas!
(*) Denise Amanajás (dac@nautilus.com.br)
Associação Paraense de Distrofia Muscular
MOVITAE – Movimento em Prol da Vida