Paraplégico volta a andar na Colômbia
Senador deficiente há 24 anos passou por cirurgia com células-tronco
Rio – Paraplégico há 24 anos, o senador colombiano Jairo Clopatofsky, 44, voltou a dar ontem os seus primeiros passos ao lado do filho de oito meses. Há um ano, o político se submeteu a um transplante de células-tronco na Clínica Reina Sofía, em Bogotá. Jairo passou pela cirurgia de regeneração medular com células-tronco retiradas da mucosa olfativa.
O senador afirmou ontem que o sucesso do experimento pode abrir portas para outras pessoas em situação semelhante. Jairo passou mais da metade de sua vida em uma cadeira de rodas, depois que sofreu um acidente de carro em 1982.
Apesar de já ensaiar os primeiros passos, Jairo disse à Rádio Caracol, da Colômbia, que resultados melhores devem aparecer nos próximos dois anos. “Estou reaprendendo a andar com meu bebê. Talvez em pouco tempo possamos andar os dois, de mãos dadas”, disse o senador, que está usando botas especiais para ajudá-lo a se manter de pé e facilitar o processo de recuperação.
Há alguns meses, o parlamentar apresentou um projeto de lei que visa incluir no sistema de saúde de seu país procedimentos de transplante de células-tronco. A medida poderia ajudar os cerca de 800 mil deficientes que vivem na Colômbia — a maioria deles vítimas da violência e de acidentes.
A técnica de regeneração medular com células-tronco usada no procedimento no senador foi desenvolvida pelo neurologista português Carlos Lima e consiste na retirada de células da mucosa olfativa do paciente, localizada a um milímetro da massa encefálica. Essas células têm alto poder de regeneração das conexões perdidas. A pesquisa começou em 2001. Desde então, pelo menos 45 pessoas, vítimas de lesão medular, já foram submetidas à técnica, com bons resultados — muitos deles recuperaram a sensibilidade perdida nos membros afetados.
Nos EUA, o presidente George W. Bush vetou ontem o projeto de lei que ampliaria os fundos públicos para pesquisas com células-tronco embrionárias. “Este projeto apoiaria a destruição de vidas humanas com a esperança de encontrar benefícios médicos para outras e ultrapassa um limite moral que nossa sociedade deve respeitar”, alegou. O desafio do Congresso agora é reunir votos suficientes para anular o veto de Bush.
Notícia dá esperança a jovem carioca
A notícia do colombiano que voltou a andar depois de um ano, graças a um transplante de células-tronco, encheu de esperança Ana Lúcia Magalhães Lima. Ela é mãe da estudante Camila Magalhães Lima, 20 anos, tetraplégica desde os 12, quando foi atingida por uma bala perdida em Vila Isabel. Camila foi aprovada para fazer um transplante do mesmo tipo realizado no senador, em Portugal, com o neurocirurgião Carlos Lima.
“Isso só nos dá a certeza de que Deus não nos abandonou e que estamos no caminho certo”, afirma a mãe.
A cirurgia de Camila em Portugal já foi marcada para o dia 30 de setembro. O advogado da família, João Tancredo, entrou com recurso na 5ª Vara da Câmara Cível, onde aguarda julgamento. O processo pede a liberação de 40 mil euros, quantia equivalente ao pagamento da cirurgia e de passagens aéreas. “Só espero que as autoridades não sejam desumanas e neguem à Camila a única chance de cura que ela tem”, destaca Ana Lúcia.