USP avança no tratamento da distrofia muscular
São Paulo – Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) estão obtendo avanços importantes na pesquisa de células-tronco adultas (não embrionárias) obtidas de uma fonte pouco convencional: a gordura residual das técnicas de lipoaspiração em clínicas de cirurgia plástica.
Em uma pesquisa realizada no Centro de Estudos do Genoma Humano, células-tronco do tecido adiposo foram transformadas em células musculares produtoras de distrofina, uma proteína essencial para pacientes com distrofia de Duchenne, doença genética que causa degeneração dos músculos.
Segundo a pesquisadora Natássia Vieira, que faz o trabalho para sua tese de doutorado, as células-tronco do tecido adiposo podem ser tão versáteis quanto as da medula óssea – uma das fontes mais usadas em pesquisa. “Talvez sejam até mais. Estou tentando demonstrar isso.”
Em experimentos in vitro, as células-tronco da gordura se fundiram a células do músculo esquelético de pacientes. Portadores da distrofia de Duchenne não produzem distrofina, o que causa degradação da membrana que envolve as fibras musculares. “Sem essa capa protetora, as proteínas que deveriam estar dentro dos músculos vazam e a musculatura se degenera”, explica a geneticista Mayana Zatz, que orienta a pesquisa.
Ao se fundir com as células-tronco, porém, as células musculares dos pacientes passaram a produzir distrofina normalmente. “Os níveis de expressão foram compatíveis com os de uma pessoa saudável”, disse Natássia. Os experimentos foram feitos apenas in vitro, e muitos estudos ainda são necessários até que a técnica possa ser testada clinicamente. “É apenas um primeiro passo, mas um passo importante”, observa Mayana. Os próximos são testes in vivo com camundongos e cachorros.
A idéia, futuramente, é que as células-tronco possam ser injetadas em portadores da doença para que seus músculos produzam distrofina. “O que a gente quer é substituir o músculo, como se fosse um transplante de órgão”, compara Mayana. Segundo ela, há mais de 30 tipos de distrofias musculares – cada uma relativa a uma proteína diferente – que poderiam se beneficiar da mesma técnica. A pesquisa é feita em colaboração com a médica Vanessa Brandalise.