Estudo aponta potencial caminho para novo tratamento para a distrofia muscular

17 de maio de 2012 by Izabel Gavinho

Newswise — 14 de maio de 2012 – Oakland, Califórnia

Estudo desenvolvido por cientistas do Hospital Infantil & Centro de Pesquisas de Oakland, identificou como as células-tronco dos músculos esqueléticos reagem a lesões musculares, e podem ser estimuladas a melhorar a reparação muscular na distrofia muscular de Duchenne, uma séria doença muscular de caráter hereditário, que causa fraqueza, deficiência física, insuficiência cardíaca e respiratória.

Conduzido pela Dra.Julie D. Saba, cientista do Instituto de Pesquisas do Hospital Infantil de Oakland (CHOEI), o estudo demonstrou que uma molécula lipídica sinalizadora chamada esfingosina-1-fosfato, ou “S1P” pode iniciar uma resposta inflamatória capaz de estimular a proliferação de células-tronco musculares e ajudar na reparação muscular. Mostrou-se também que camundongos mdx, modelos da distrofia muscular de Duchenne, apresentam deficiência de S1P, e que o aumento dos níveis da molécula melhora a regeneração muscular nesse animais.

Um relatório da pesquisa descrevendo as descobertas do estudo será publicado online no seguinte endereço:

http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0037218

A musculatura esquelética forma o maior “órgão” do corpo humano, e é importante para todas as atividades. Os músculos podem sofrer lesões por trauma, inatividade, envelhecimento e por diversas formas de doenças musculares hereditárias. Entretanto, de maneira importante, a musculatura esquelética é um dos poucos tecidos do corpo humano com capacidade de reparar-se totalmente após uma lesão.

A capacidade de regeneração dos músculos é atribuída à presença de uma forma adulta de células-tronco chamada “células-satélite”, essencial para tal feito. Essas células localizam-se na periferia da fibra muscular, e permanecem “dormentes”, não crescem, movimentam-se, ou tornam-se ativas. Entretanto, quando ocorre uma lesão muscular, elas “acordam” por meio de mecanismos pouco conhecidos, e fundem-se com o músculo lesionado, estimulando o complicado processo que resulta na reconstrução de uma fibra muscular saudável.

A S1P é uma molécula sinalizadora lipídica que controla o movimento e a proliferação de muitos tipos de células humanas. Já foi provado anteriormente que a S1P pode ativar células-satélite, mas os cientistas não sabiam bem como isso ocorria.

“Vínhamos estudando a sinalização da S1P há muitos anos,“ afirma a Dra. Saba. “Em 2003 publicamos um relatório onde demonstramos que moscas da fruta mutantes, com o metabolismo da S1P defeituoso, não podiam voar porque desenvolviam uma doença muscular, ou miopatia, que degenerava os músculos que as permitia voar. Com base em tais observações, convenci-me que a sinalização da S1P tinha papel significativo na estabilidade e na homeostase muscular, não só nas moscas, mas também nos mamíferos, incluindo os humanos.”

A equipe da Dra. Saba descobriu a forma pela qual a “S1P” consegue “acordar” as células-satélite quando ocorre uma lesão nos músculos. Ela envolve a capacidade dessa molécula em ativar o receptor 2, um dos seus cinco receptores, localizados na sua superfície celular. Tal ativação leva a uma sequência de eventos inflamatórios, controlados por um fator de transcrição chamado STAT3. Eles demonstraram que a S1P é produzida rapidamente no músculo logo após uma lesão, levando a uma “sinalização da S1P”. A S1P, atuando por meio de seu “receptor 2”, conduz à ativação do STAT3, resultando em mudanças na expressão de genes que “acordam” as células-satélite dormentes, iniciando sua proliferação e assistência na reparação muscular.

“Estas descobertas são de especial importância para certas doenças musculares, ou miopatias, que podem afetar crianças.”, afirma a Dra. Saba. A miopatia mais frequente em crianças, e também a mais severa, é a distrofia muscular de Duchenne, uma doença que atinge jovens meninos e que, comumente, leva-os à morte por insuficiência cardíaca e respiratória, por volta dos vinte anos.

Embora ao iniciar a vida, pacientes com Duchenne possuam uma quantidade suficiente de células-satélite para reparar a degeneração muscular, com o tempo essas células não conseguem acompanhar a rapidez do processo degenerativo.”

“Descobrimos que camundongos mdx apresentam uma doença semelhante à distrofia muscular de Duchenne, e eles são deficientes em S1P. Nós conseguimos aumentar os níveis da S1P nos camundongos utilizando uma droga que bloqueia sua degradação, elevando o número de células-satélite nos músculos e melhorando a eficiência da regeneração muscular que ocorre após uma lesão.”

Caso tais descobertas sejam também verdadeiras em seres humanos com distrofia muscular de Duchenne, talvez seja possível lançar mão de uma técnica semelhante para elevar os níveis de S1P, e melhorar a função das células-satélite e a regeneração muscular em pacientes com a doença.

Drogas que bloqueiem o metabolismo da S1P, e elevem seus níveis, estão agora em testes com a finalidade de tratar outras doenças, dentre elas a artrite reumatoide. Se esses estudos mostrarem-se relevantes para pacientes com Duchenne, pode ser possível utilizar as mesmas drogas para melhorar a regeneração muscular desses pacientes. De forma alternativa, novos agentes que consigam ativar especificamente o receptor 2 da S1P também poderiam ser benéficos no recrutamento de células-satélite, melhorando a regeneração muscular na distrofia muscular de Duchenne, e potencialmente em outras doenças musculares.

Este trabalho foi financiado pela Associação Americana de Distrofia Muscular, pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e por prêmios concedidos a bolsistas do Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia

Tradução : Marcelo D. P. de Oliveira. contato: trad.mdpo”arroba”gmail.com

Fonte: http://www.newswise.com/articles/children-s-hospital-research-center-oakland-scientists-discover-clues-to-muscle-stem-cell-functions-study-reveals-a-potential-key-to-new-treatment-strategies-for-muscular-dystrophy

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